Antonio Palocci disse também não saber sobre propinas na compra de aviões caça da França, que é o alvo específico da ação penal que investiga Lula
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci afirmou nesta segunda-feira (18), em depoimento à Justiça Federal, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva combinou o recebimento de propinas em uma negociação para a compra de helicópteros e submarinos da França. Segundo Palocci, os desvios teriam sido combinados diretamente com o então presidente francês Nicolas Sarkozy.
Palocci, no entanto, negou saber de irregularidades sobre a compra de caças da França ou da Suécia, que é o alvo específico da ação penal na qual o ex-ministro prestou depoimento nesta segunda-feira (18). O processo tem o ex-presidente Lula e seu filho Luiz Cláudio como réus.
De acordo com Palocci, o acordo se deu em uma reunião que varou a madrugada quando este visitou o Brasil, em 7 de setembro de 2009. “Ali se tratava da compra dos aviões caça, dos helicópteros e dos submarinos para a Marinha. Sobre os submarinos e os helicópteros, eu conheço várias situações de ilícitos”, disse Palocci.
“Ali se tratou de ilícito sim, o que ficou substanciado depois no pagamento de propina no projeto dos submarinos, igualmente com pagamento de propina no projeto dos helicópteros. Agora, os caças em particular houve uma mudança no projeto do governo, então não sei o que aconteceu”, afirmou Antonio Palocci .
O ex-ministro da Fazenda prestou depoimento ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, responsável pela ação penal. Este processo é um dos que o ex-presidente responde no âmbito da Operação Zelotes, que apura um suposto esquema ilícito na aprovação das medidas provisórias 471/2009 e 627/2012, que tratam de benefícios a montadoras de veículos.
Indagado pelo Ministério Público Federal (MPF), Palocci voltou a relatar ter conhecimento sobre o recebimento de propina pelo ex-presidente em benefício de seu filho Luiz Cláudio, em troca da edição de medida provisória que garantiu benefícios às montadoras.
O depoimento, que chegou a ser suspenso pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), foi convocado pelo juiz federal após surgirem relatos na imprensa de que Palocci, em colaboração premiada no âmbito da Operação Greenfield, teria delatado o líder petista em relação aos caças.
Também ouvido nesta segunda-feira (18), o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim , por sua vez, voltou a negar qualquer ilícito nas negociações de equipamentos militares com a França. Ele relatou estar presente na reunião sobre o assunto mencionada por Palocci, mas garante que não houve nenhuma irregularidade nas tratativas.
“No jantar foi tratado de preço. Não houve absolutamente nenhuma pretensão de propina ou coisa do tipo”, disse Jobim. O ex-ministro da Defesa foi reconvocado pela Justiça a prestar novo depoimento na ação penal após as revelações feitas por Palocci.
Jobim reafirmou também que o petista não teve participação direta nas negociações com a França. “Houve um entendimento com o presidente Lula que os assuntos seriam tratados diretamente por mim e só por mim”, disse o ex-ministro da Defesa.
Durante o depoimento desta segunda-feira (18), o advogado Cristiano Zanin, que representa Lula, disse que, por ter firmado acordo de delação premiada com o MPF, cujo teor é sigiloso, Palocci não pode ser considerado uma testemunha com “isenção de ânimo”.
Questionado por Zanin se teve acesso ao documento assinado na reunião entre Sarkozy e Lula, Palocci negou ter lido o termo. O ex-ministro da Fazenda disse que soube do que foi tratado na reunião somente através do próprio Lula , mas acrescentou não haver outros presentes na conversa. “Discussão de propina não tem testemunha”, afirmou.
Fonte: Último Segundo – *Com informações da Agência Brasil