Bispos no Sala do Sínodo. Crédito: Daniel Ibáñez / ACI Prensa.
Os cardeais Walter Brandmüller e Raymond Burke escreveram cada um uma carta em italiano a outros membros do Colégio Cardenalicio, –às que o grupo ACI teve acesso – fazendo uma grave denúncia de alguns pontos do documento de trabalho (Instrumentum laboris) do Sínodo da Amazônia, que se realizará no Vaticano de 6 a 27 de outubro.
“Em poucas semanas começará o chamado Sínodo da Amazônia. O que se sabe até agora sobre o Sínodo não pode senão suscitar as mais sérias preocupações. Alguns pontos do Instrumentum laboris parecem não só estar em dissonância com o ensino autêntico da Igreja, mas são contrários a Ela”, afirma por sua parte o Cardeal alemão Walter Brandmüller em sua carta datada em 28 de agosto.
“Como mostra a experiência destes últimos sínodos, deve-se temer tentativas não só de manipular a sessão sinodal mas as de exercer fortes pressões sobre ela”, alertou.
A seguir o Cardeal expressou sua preocupação sobre a participação do Cardeal brasileiro Claudio Hummes, que preside a Rede Eclesiástica Panamazónica (Repam), instituição que, segundo o Bispo Emérito de Marajó (Brasil), Dom José Luis Azcona, teve um papel protagonista na redação do texto.
“O simples fato de que o Cardeal Hummes seja seu presidente lhe possibilitará uma grave influência no sentido negativo, e, isto nos basta para que nossa preocupação seja fundamentada e realista, de igual maneira no caso da participação dos bispos (Erwin) Kräutler, (Franz-Josef) Overbeck, etc.”, afirma o Cardeal Brandmüller.
Recorda-se que Dom Overbeck se manifestou em maio deste ano a favor da “greve de mulheres” na Alemanha, uma espécie de protesto à negativa do Papa Francisco à proposta de ordenar diaconisas; e que Erwin Kräutler, que serve como vice-presidente da Repam, defende a ordenação sacerdotal de homens casados.
O Cardeal Brandmüller advertiu também que “as formulações nebulosas do Instrumentum, como a pretendida criação de novos ministérios eclesiásticos para as mulheres e, sobretudo, a ordenação presbiteral dos chamados viri probati, suscitam a forte suspeita de que será colocado em questão até mesmo o celibato sacerdotal”.
O Instrumentum Laboris propõe, que no caso da Amazônia, a ordenação de homens casados e de comprovada virtude poderá compensar a ausência de sacerdotes em algumas regiões.
Ante esta situação, continuou o Cardeal que é perito em história da Igreja e que foi também professor universitário, “teremos que confrontar sérios ataques à integridade do Depositum fidei (o depósito da fé), à estrutura hierárquico-sacramental e à Tradição Apostólica da Igreja. Com tudo isto se criou uma situação nunca antes vista em toda a história da Igreja, nem sequer durante a crise arriana dos séculos IV e V”.
Arrio foi um bispo que negava a divindade de Cristo, que logo seria conhecida como a heresia do arrianismo. Em seu tempo um dos que a combateu fortemente foi outro bispo, Santo Atanásio.
Em relação às ameaças que vê no Instrumentum laboris, o Cardeal Brandmüller indicou que “aparece então a grave pergunta sobre como nós cardeais, nesta situação historicamente inédita, podemos atuar à altura de nosso solene juramento cardinalício e como poderemos reagir a eventuais afirmações ou decisões heréticas do Sínodo”.
“Certamente você como cardeal já refletiu sobre a situação e inclusive nos possíveis passos a dar em comum. Por isso espero que Sua Eminência, por sua parte, tome a ocasião de corrigir, segundo o ensino da Igreja, certas posições expressas no Instrumentum laboris do Sínodo da Amazônia, usando também as redes sociais”, concluiu.
A carta do Cardeal Burke
Por sua parte, o Cardeal americano Raymond Burke assinalou em sua carta, também datada no 28 de agosto, que compartilha “plenamente as profundas preocupações do Cardeal Brandmüller sobre o iminente Sínodo para a Amazônia, da forma como seu trabalho está previsto no Instrumentum laboris”.
Além dos pontos mencionados pelo Cardeal alemão, o Cardeal Burke advertiu que no documento de trabalho do Sínodo “a verdade de que Deus revelou a Si mesmo plenamente e perfeitamente através do mistério da Encarnação redentora de Deus Filho não só está obscurecida; ela é negada”.
“Como consequência lógica, a missão da Igreja, a missão de evangelização, é negada em favor de um ‘enriquecimento recíproco das culturas em diálogo’”, como assinala o numeral 122 do documento.
Desse modo, “o papel positivo da inculturação na missão de evangelização está sendo contrariado, ao ponto que a cultura condiciona a verdade revelada, em vez de ser a verdade revelada quem purifica e eleva toda cultura”, prosseguiu.
Além disso, alertou, alguns pontos comentados pelo Cardeal Brandmüller “fazem pressagiar uma apostasia da fé católica”.
“Que nosso ensino, pela graça de Deus, seja eficaz para combater a grande ameaça à Igreja no momento presente. Que a Virgem Mãe de Deus, São José, protetor da Igreja Universal, os Santos Pedro e Paulo, e os grandes Santos cardeais intercedam fortemente pelo Colégio de Cardeais nestes tempos inquietos e inquietantes”, concluiu.
Fonte: www.acidigital.com – (ACI)