Mantega vazou informações sobre taxa Selic para André Esteves, diz Palocci

Operação deflagrada investiga vazamentos de resultados do Copom. Palocci detalhou esquema em acordo de delação premiada

O ex-ministro petista Antônio Palocci detalhou em delação premiada o suposto esquema de vazamento de informações privilegiadas sobre alterações da taxa básica de juros, a Selic, do Banco Central, divulgado na quinta-feira (3). Estão envolvidos o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

O banco é alvo de busca e apreensões da Polícia Federal e da Procuradoria da República no âmbito da Operação Estrela Cadente, uma das etapas da Lava Jato. Uma operação conjunta do Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) e da PF investiga vazamentos de resultados de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ocorridos nos anos de 2010, 2011 e 2012.

Delação

No anexo 9 de sua extensa delação premiada – ao todo, são 84 anexos -, Palocci afirma que, em agosto de 2011, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega teria participado de uma reunião com o então presidente do BC, Alexandre Tombini, e a ex-presidente Dilma Rousseff.

Na ocasião, Tombini foi informar a posição do BC em reduzir, pela primeira vez em dois anos, a taxa Selic de 12,42% para 11,90%. Foi a primeira vez que ocorreu uma guinada para baixo nos juros após tendência de alta que vinha ocorrendo desde 2009.

Mantega teria, então, repassado a informação privilegiada para André Esteves, comunicando sobre a futura posição do BC em baixar a Selic. O banqueiro, por sua vez, “realizou diversas operações no mercado financeiro, obtendo lucros muito acima da média dos outros operadores financeiros”, segundo a delação de Palocci.

Os lucros vieram do Fundo Bintang, administrado pelo BTG Pactual, criado em 2010. “Essas operações, contrariando todos os operadores do mercado, apostaram nas oscilações para baixo da taxa básica de juros e renderam mais de 400% de lucro no ano”, disse o ex-ministro.

De acordo com Palocci, o patrimônio do fundo cresceu de R$ 20 milhões para R$ 38 milhões em menos de três meses.

O ex-ministro conta que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu investigação para apurar o caso, mas que foi encerrada sem constatação de irregularidades. “Comentou-se intensamente que André Esteves tinha, finalmente, por intermédio de Guido Mantega, conseguido ‘grampear o Banco Central’”.

Em contrapartida pela informação privilegiada, Palocci afirma que Esteves pagou R$ 9,5 milhões como doação oficial da campanha de Dilma, em 2014, e repassou 10% dos lucros obtidos para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em forma de vantagens indevidas.

Defesas

O Banco Central informou que não foi comunicado sobre o conteúdo da Operação.

Já o BTG Pactual esclareceu que “em relação às diversas notícias veiculadas sobre a operação denominada Estrela Cadente, recebemos pedidos de informação do MPF referentes à operações realizadas pelo Fundo Bintang FIM”.

“O Fundo possuía um único cotista pessoa física, profissional do mercado financeiro que também era o gestor credenciado junto à CVM, que nunca foi funcionário do BTG Pactual ou teve qualquer vínculo profissional com o Banco ou qualquer de seus sócios. O Banco BTG Pactual exerceu apenas o papel de administrador do referido fundo, não tendo qualquer poder de gestão ou participação no mesmo”, finaliza a nota.

Sobre Palocci

Palocci foi preso em setembro de 2016, na Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato. Condenado pelo então juiz federal Sérgio Moro a 12 anos e 2 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e acuado por outras investigações, Palocci fechou acordo de delação premiada, inicialmente, com a Polícia Federal no Paraná.

Em novembro de 2018, ele foi solto e deu início a uma longa série de depoimentos. As revelações do ex-ministro petista provocaram a abertura de diversas frentes de investigação.

Fonte: Jovem Pan – *Com informações do Estadão Conteúdo

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