“O objetivo do novo teste clínico é avaliar a ação da droga antes que o paciente sofra mais complicações com o agravamento da doença”.
Em coletiva de imprensa realizada na ultima terça-feira (19/5), o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes (foto), revelou que deve começar nesta semana a segunda fase de testes clínicos com a nitazoxanida (Annita) para tratamento da Covid-19.
Nessa nova etapa de ensaios clínicos da substância, serão avaliados 500 pacientes que testaram positivo para Covid-19, mas não apresentaram sintomas ou tiveram manifestações leves da doença. A ideia é analisar como conter a moléstia antes que ela desenvolva uma ação inflamatória muito forte, que agrave o quadro do paciente.
“O objetivo do novo teste clínico é avaliar a ação da droga antes que o paciente sofra mais complicações com o agravamento da doença”, afirmou Pontes. O ministro destacou que o medicamento “é simples e não tem efeitos colaterais” e as pessoas que se candidatarem aos testes não perderão nada.
“Se eu tiver os sintomas da Covid-19 pode ter certeza que vou procurar um dos hospitais que estão envolvidos com a pesquisa e me inscrever para fazer os testes também. Em primeiro lugar porque esse medicamento não tem efeitos colaterais; depois porque e as pessoas que vão participar do teste terão o mesmo tratamento que se não participasse dele. Ou seja, poderão usar antitérmico, antibiótico, anticoagulante etc., enfim, ter tratamento normal. Com a diferença que receberiam o novo medicamento”, enfatizou o ministro. “Além disso, ao participar do teste, elas ajudarão outras pessoas e quando terminar a avaliação haverá um medicamento cientificamente comprovado para ser usado”.
Os novos testes clínicos da nitazoxanida estão sendo realizados em 17 hospitais do País – seis em São Paulo, quatro no Rio de Janeiro, dois em Belo Horizonte, dois em Brasília e em Recife, Manaus e Curitiba. Não há previsão de quando eles serão concluídos, pois, segundo Marcos Pontes, vai depender de quando atingir o número de pacientes exigido para validar a pesquisa.
Na primeira fase dos testes clínicos, ainda não concluída, foram selecionados 500 pacientes com quadro mais avançado da doença. São aqueles que já tinham sintomas como febre, tosse ou pneumonia e apresentaram na tomografia imagens dos pulmões que parecem ‘vidro fosco’.
A previsão inicial era de que esses testes durassem aproximadamente um mês, mas esse prazo já foi ultrapassado. “A demora é a entrada dos pacientes para testar”, disse o ministro. Questionado, então, sobre resultados preliminares, Pontes afirmou que, segundo protocolos internacionais, não é permitido revelar nada antes do fim da pesquisa. A conclusão dos estudos é avaliada por uma comissão externa e os resultados são repassados a 15 países que participam da rede de pesquisa com o Brasil.
O ministro lembrou que os primeiros testes com a nitazoxanida começaram em fevereiro, quando ela era apenas uma das 2.000 substâncias avaliadas para ser usada contra a Covid-19. Nessa etapa, ela passou por testes de inteligência artificial (modelos matemáticos) em computadores do Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Dessa seleção, saíram cinco medicamentos promissores que passaram a ser avaliados em novos testes in vitro. A nitazoxanida foi a que se saiu melhor. Nos ensaios laboratoriais mostrou-se eficiente contra o novo coronavírus, reduzindo em quase 94% a carga viral. “Mas teste in vitro é uma coisa, é preciso testar no organismo todo para ver se funciona. Assim, passou-se à fase dos testes clínicos”, explicou Pontes.
De acordo com o diretor técnico de saúde do Hospital das Forças Armadas, brigadeiro Geraldo José Rodrigues, a nitazoxanida já mostrou que tem efeitos antivirais – foi utilizada com sucesso no Brasil para combater uma epidemia de rotavírus. Além de já ter sido pesquisada para outro coronavírus (SARS CoV-1) e para a hepatite C.
Atualmente, a nitazoxanida, que pertence à classe dos medicamentos anti-helmínticos, é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para o tratamento de gastroenterites virais provocadas por rotavírus ou norovírus, helmintíases, amebíase, giardíase, criptosporidíase, blastocistose, balantidíase e isosporíase.
Segundo o MCTIC, estão sendo aplicados R$ 5 milhões nos novos testes clínicos da nitazoxanida. Eles fazem parte de um pacote de R$ 352 milhões que o Governo Federal prometeu repassar como crédito extraordinário ao ministério para ações contra a pandemia, por meio da Medida Provisória 962/20.
Em contraste ao otimismo do Governo, testes realizados na China não mostraram resultados positivos em relação à substância contra a Covid-19. Em Whuhan, cidade chinesa em que a pandemia começou, cientistas e virologistas já teriam testado a nitazoxanida em laboratório. Entretanto, segundo informação divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, a pesquisa mostrou que a droga apresentou uma atividade antiviral apenas adequada em doses altas, que se mostraram tóxicas.
Confira o vídeo da coletiva na íntegra:
Fonte: ICTQ – Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (Por marcelo de valécio. Postado em política farmacêutica – ictq.com.br)