Oficina de confecção da viola de cocho mantém viva tradição em Várzea Grande

O artesão Alexandre Paes passa todo o seu conhecimento às comunidades várzea-grandenses, por meio de oficinas e cursos

A arte de confeccionar a viola de cocho, um dos mais tradicionais instrumentos musicais que dão ritmo às músicas e danças populares de Várzea Grande, como o cururu e o siriri, permanece viva nas mãos do artesão Alexandre Paes, que passa todo o seu conhecimento às comunidades várzea-grandenses, por meio de oficinas e cursos.

O quintal de sua casa, no bairro Vila Arthur, um dos pontos de cultura mais importantes de Várzea Grande, é uma extensão da Associação das Manifestações Folclóricas de Mato Grosso (AMFMT), que recebe apoio financeiro da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Smecel), por meio da Superintendência de Cultura, para manutenção das atividades com crianças e adolescentes de escolas municipais.

Mestre Alexandre foi um dos selecionados pelo edital Expressões Culturais Várzea-grandenses, premiado com recursos da Lei Aldir Blanc em Várzea Grande. A execução da oficina “Modos de Fazer Viola de Cocho” foi uma das contrapartidas oferecidas pelo artesão, beneficiando 15 moradores da cidade industrial. Com carga horária de 40 horas e ministrada no mês de abril, a oficina teve o objetivo de transmitir a tradição artesanal, musical, poética e coreográfica da viola de cocho, expressão cultural registrada no livro dos saberes do patrimônio imaterial nacional.

Gustavo da Silva Campos, um dos alunos da oficina, conta que o cururu está em seu sangue, pois o tio também era cururueiro e artesão na fabricação da viola de cocho e desde criança convive com essa cultura e tradição. “Desde o momento que passei a ter contato com a viola de cocho e poder cantar o cururu, senti algo mágico. É difícil explicar, é preciso sentir, cantar e tocar para saber o que é esse sentimento”, ressalta Gustavo.

Segundo Gustavo Campos, que também é coordenador do programa Escola em Tempo Ampliado (ETA) da Emeb Joaquim da Cruz Coelho, se depender dele essa tradição se manterá viva por muitos anos ainda. “Será a partir de nós, que somos mais jovens, que essa tradição se manterá viva, e nós temos o papel de transferi-la para outros jovens”.

A subsecretária da Smecel, Maria Alice de Barros, destacou a importância da Lei Aldir Blanc para a cultura e os artesãos de Várzea Grande. “É gratificante acompanhar o trabalho sendo desenvolvido, assim como o mestre Alexandre, que está de parabéns pelo apoio à nossa cultura, repassando o seu conhecimento a outras gerações”, ressaltou.

O superintendente de Cultura da Smecel, Joilson Marcos da Silva, diz que se sente muito feliz em ver um projeto como esse, que beneficia a cultura e o povo várzea-grandense, sendo executado. “Estaremos sempre de portas abertas, pois queremos sempre o melhor para o setor cultural”.

Alexandre Paes conta que aprendeu com seu pai o ofício de artesão da viola de cocho e, também, do mocho e ganzá. Atualmente, ele é um dos principais instrutores de cursos, oficinas e workshops de Mato Grosso. Ele destaca que se sente muito satisfeito em passar o seu conhecimento para esses jovens aprendizes, pois sem esse trabalho social futuramente não terá mais a viola de cocho.

“Penso no amanhã, não quero deixar essa riqueza e beleza que recebi do meu pai só para mim e não repassar para frente. Se eu não repassar para os alunos, ela morrerá comigo e não terá proveito nenhum”, ressalta.

O artesão trabalha com as oficinas em Várzea Grande desde 2010, quando entrou para a AMFMT. Começou dando aulas de musicalidade para jovens na Escola Estadual Nadir de Oliveira. Esses foram os seus primeiros passos em Várzea Grande, logo depois vieram as oficinas de viola de cocho.

Nas oficinas, além de ensinar a confeccionar a viola, ele também ensina a tocar o cururu e cantar o siriri, como é feito os versos e o que significam, ou seja, explica aos alunos todo o processo de musicalização.

Mestre Alexandre também é festeiro e tirador de reza em festas de santo da região metropolitana de Cuiabá. Além de ser festeiro, é tocador e autor de músicas de siriri e de toadas de cururu.

Confecção artesanal e consciente

A madeira usada para a confecção da viola é extraída de árvores como o sarã de leite, chimbuva, cedro rosa, cajá manga, seriguela, cajueiro, entre outras. Os artesãos têm a preocupação em preservar o meio ambiente e não costumam cortar as árvores para esse fim. Alexandre conta que costuma usar pedaços de árvores que já foram cortadas e descartadas. “Para mim é muito gratificante dar vida àquele pedaço de árvore que foi jogado fora, fazendo ela reviver, mas de forma diferente, como um instrumento que vai alegrar muitas pessoas”.

Ele conta que, antigamente, as cordas da viola eram feitas de tripa de ouriço, macaco, bugio, leitoa, entre outros, mas hoje usam cordas de pescar.

Lei Aldir Blanc

A lei, sancionada em junho deste ano, garante uma renda emergencial a profissionais do setor cultural, como artistas, contadores de histórias e professores de escolas de artes e capoeira.

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