Reivindicações e debate técnico marcam audiência pública para discutir a MT-251

Representantes da Sinfra estiveram no evento, em Chapada dos Guimarães, e fizeram apresentação; Governo deve definir solução técnica para a rodovia na próxima semana.

A cidade de Chapada dos Guimarães tem sentido os impactos da interrupção do tráfego de veículos pesados na MT-251, a Estrada de Chapada. Moradores do local participaram da audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), na quinta-feira (7), e compartilharam as dificuldades que têm enfrentado.

No aspecto econômico, comerciantes relatam quedas no faturamento e a necessidade de demitir funcionários. É o caso do empresário José Carlos Biancardini, proprietário de um restaurante na região. Segundo ele, o movimento caiu aproximadamente 60%. “Mais de quarenta famílias dependem do nosso negócio e não podemos deixar essas pessoas na mão”, disse Biancardini.

A interrupção da rodovia para veículos pesados também tem impactos sociais. Os caminhões que trazem produtos alimentícios precisam percorrer distâncias maiores para chegar à cidade e, com isso, o reflexo é observado nas prateleiras dos mercados. “Tudo está mais caro por aqui”, afirma a moradora Jocineide Pinho dos Santos.

De acordo com o vereador Mariano Fidelis (PDT), presidente da Câmara Municipal de Chapada dos Guimarães, onde a audiência pública foi realizada, os parlamentares acompanham de perto os dramas vividos por quem precisa se deslocar até a capital mato-grossense para tratamentos de saúde ou, simplesmente, para estudar.

“As vans escolares não passam. Alunos estão perdendo aula porque não conseguem ir a Cuiabá. Outros estão pagando transporte particular pela Serra de São Vicente, mas essa é uma alternativa cara, não está ao alcance de todos os moradores”, explicou o vereador.

O deputado estadual Wilson Santos (PSD), requerente da audiência pública, destacou a importância dessas reuniões para ouvir os anseios da população e, em conjunto, encontrar soluções para os problemas enfrentados. “Não acaba aqui. Vamos requerer, por meio do deputado Carlos Avallone (PSDB), mais uma audiência pública para debater os desafios da MT-251”, afirmou Wilson Santos.

Debate técnico – A Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra-MT) foi representada pela secretária-adjunta de Obras Rodoviárias, Nivea Calzolari, e pelo engenheiro civil Wilson Conciani, consultor técnico contratado para conduzir os estudos que embasarão as soluções do governo para o tráfego na região do Portão do Inferno.

Em sua apresentação, Conciani explicou aos moradores que as quedas de barreiras rochosas são naturais no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, em virtude dos efeitos do tempo sobre a natureza. No entanto, a aceleração desses movimentos é preocupante.

Enquanto a equipe responsável realiza estudos geotécnicos, algumas ações imediatas foram adotadas, entre elas o monitoramento por vídeo, a limitação do tráfego para meia pista, a remoção de grandes blocos rochosos, a proteção de blocos menores com telas e a instalação de uma estação meteorológica no local das intervenções.

“Observamos que existem problemas acima e abaixo da estrada, em especial no viaduto do Portão do Inferno. Temos indícios de movimentação de blocos que podem afetar diretamente essa estrutura, mas ainda não conseguimos medir esse deslocamento. Estão sendo adquiridos instrumentos que permitirão fazer esse apontamento de forma mais precisa e, com isso, compreender a real dimensão do problema no viaduto”, disse Conciani.

Os estudos encabeçados pelo consultor englobam análises de permeabilidade, resistência e zonas de fraqueza das rochas, tipos de cimentos naturais das encostas e os movimentos delas acima e abaixo do viaduto. As informações apresentadas por Wilson Conciani foram debatidas e questionadas pelos participantes da audiência, entre eles o geólogo Caiubi Kuhn.

Para Caiubi, do ponto de vista geológico, não há indicativo de movimentação de blocos abaixo da estrada, o que precisa ser comprovado pela Sinfra. Além disso, se o risco de queda está relacionado aos blocos pequenos, a Secretaria deveria providenciar a remoção e a imediata liberação das duas pistas da rodovia.

“Deslizamentos são naturais em estradas com essas características, margeadas por encostas. As limpezas se fazem necessárias e, nesse caso, são realizadas com a remoção dos blocos”, disse o geólogo. Ele também questiona as técnicas usadas pela Secretaria para avaliação geotécnica da região, o que interferiria nos resultados.

Para o deputado Wilson Santos, o debate dos técnicos a respeito de seus estudos e ideias foi o ponto alto da audiência e pode favorecer a tomada de decisões mais acertadas por parte do governo.

O promotor de Justiça de Chapada dos Guimarães, Leandro Volochko, participou da audiência e cobrou soluções por parte da Sinfra, inclusive o reforço das equipes que trabalham nas ações emergenciais no Portão do Inferno. Ele ainda afirmou que solicitará um laudo complementar ao geólogo Caiubi Kuhn para ser entregue à secretaria e auxiliar nos trabalhos dos técnicos da pasta.

Encaminhamentos – A secretária adjunta Nivea Calzolari ouviu os pedidos de liberação da rodovia em duas pistas e do trânsito de veículos pesados, mas disse que, por enquanto, não haverá mudanças em relação a esses pontos. A respeito da celeridade na apresentação de soluções por parte do governo, ela explicou que estudos precisavam ser feitos e estão em andamento. “Antes disso, havia apenas um relatório da Companhia Mato-grossense de Mineração, a Metamat, e que não possuía ensaios e pesquisas necessárias”, afirmou.

Segundo ela, o Estado vai apresentar uma solução técnica para a MT-251 no início da próxima semana, a partir dos estudos preliminares. A secretária se comprometeu a pedir mais uma frente de trabalho nas obras de asfaltamento da MT-246, que liga o Distrito de Água Fria, em Chapada dos Guimarães, até a MT-351 (acesso ao Lago do Manso). Essa é uma rota alternativa para os veículos de carga que precisam transitar entre Cuiabá e Chapada. A pavimentação do trecho deve minimizar os prejuízos alegados pelos moradores.

Sobre a liberação de vans escolares e a alteração dos pontos de interrupção do tráfego na região do Portão do Inferno (no modelo Pare e Siga), a secretária disse que debaterá o assunto com os demais responsáveis e dará um retorno em breve.

Os deputados Wilson Santos e Carlos Avallone, que participaram da audiência, cobraram urgência da Sinfra para definir a solução que será aplicada ao caso. Entre as opções discutidas pelo governo estão a construção de uma ponte estaiada, um túnel dentro do morro, um novo viaduto ou cortes mais complexos nos paredões. “A solução definitiva precisa ser definida o quanto antes, para que a obra não demore a começar e os prejuízos possam ser minimizados”, disse Avallone.

Wilson Santos também pediu mais ações de comunicação por parte do governo para divulgar aos usuários as reais condições de trafegabilidade da rodovia e, com isso, evitar o desencontro de informações e o receio de quem circula pela estrada e não sabe se a encontrará liberada ou interrompida em virtude das condições meteorológicas.

O prefeito de Chapada dos Guimarães, Osmar Froner (MDB), destacou a importância da audiência e dos assuntos debatidos nela. Ele está confiante nas definições que virão do governo nos próximos dias. “O governador Mauro Mendes falou que, definida a solução técnica, destinará recursos para a obra, com finalização prevista em 120 dias”, disse o prefeito.

Desde o mês de dezembro, veículos com mais de 3,5 toneladas estão proibidos de ir além do Terminal Turístico da Salgadeira ou da rotatória para Água Fria. Os veículos pesados devem utilizar a MT-140 para acessar Chapada dos Guimarães. A medida, segundo o governo do Estado, visa reduzir os impactos do trânsito na região do Portão do Inferno e, assim, evitar novos deslizamentos de terra.

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