Criatividade nas escolas: o futuro do trabalho e das relações humanas


*Por Marcelo Cintra

Uma avaliação do PISA revelou que estudantes brasileiros apresentam índices baixos em criatividade. A avaliação mede a capacidade de pensar criativamente, gerar ideias originais e resolver problemas de forma inovadora. O Brasil está atrás de muitos países nessa competência essencial para o desenvolvimento acadêmico e social, segundo a OCDE.

Embora a criatividade seja mencionada nos currículos escolares brasileiros, como na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), muitas vezes ela permanece na parte “aspiracional” e não é implementada de forma prática nas salas de aula. O foco predominante em memorização e reprodução de conteúdo deixa pouco espaço para que os alunos experimentem e explorem ideias novas e arriscadas, sem medo de errar.

O relatório “Futuro do Trabalho de 2020” do Fórum Econômico Mundial destaca que a criatividade será um fator preponderante para o mercado de trabalho nos próximos anos, ocupando o quinto lugar entre as habilidades mais requisitadas. Estima-se que 14% dos empregos correm risco de ser totalmente automatizados e 32% sofrerão mudanças significativas com o avanço da robótica e inteligência artificial.

Por essa razão, será crucial que as escolas brasileiras integrem práticas que incentivem o pensamento criativo de maneira concreta. Exemplos incluem atividades interdisciplinares, projetos práticos, ambientes de aprendizado que permitam a expressão de ideias de diversas formas como visual, escrita, música, dança e trabalhos manuais. Além disso, a formação contínua de professores é essencial para fomentar um ambiente onde a criatividade possa florescer, e evidenciar as individualidades de cada um.

Na contramão da ideia cartesiana, a pedagogia Waldorf, desenvolvida por Rudolf Steiner no início do século XX, oferece uma abordagem educacional que pode ajudar a superar esses desafios. Fundamentada na antroposofia, essa pedagogia enfatiza o desenvolvimento integral do ser humano, abordando aspectos físicos, emocionais, intelectuais e espirituais, e valorizando a criatividade e a imaginação no processo de aprendizado, destacando-se elementos de:

Aprendizado Holístico: A educação Waldorf busca desenvolver todas as dimensões do aluno – cognitiva, emocional e prática, através de um currículo rico em artes, música, teatro, artesanato e atividades manuais, além das disciplinas acadêmicas tradicionais. Este enfoque contrasta com o sistema educacional tradicional, que tende a enfatizar a memorização e o desempenho em testes.

Ambientes de Aprendizado Flexíveis: Projetados para serem acolhedores e estimulantes, com ênfase em materiais naturais e esteticamente agradáveis, os espaços promovem a colaboração e a interação, permitindo que os alunos explorem e expressem suas ideias de maneira criativa e inclusiva.

Valorização do Processo Criativo: Na pedagogia, o erro é um elemento natural do processo de aprendizagem, encorajando a experimentação e a criatividade, criando um ambiente onde os alunos se sentem seguros para arriscar e explorar novas ideias, promovendo a inovação.

Integração de Arte e Movimento: O currículo Waldorf integra artes e movimento em todas as áreas de estudo, reconhecendo que essas atividades são essenciais para o desenvolvimento do pensamento criativo e crítico. Pintura, modelagem, marcenaria, costura, teatro e dança são tão valorizadas quanto as de matemática e ciências, permitindo que os alunos desenvolvam um pensamento flexível e adaptativo.

A inserção de práticas criativas na educação pode aumentar o bem-estar dos alunos, melhorar a frequência escolar e aumentar o desempenho acadêmico, pois os alunos se sentem mais motivados a participar e explorar possibilidades.

A partir de seus ideais pedagógicos, a pedagogia Waldorf, com sua ênfase no aprendizado holístico e criativo, pode servir de modelo para outras escolas que buscam melhorar seus índices de criatividade, contribuir com ambientes de aprendizado flexíveis e integrar as artes e o movimento no currículo, e assim cultivar alunos mais criativos, conscientes de si mesmos e do contexto em que vivem, ampliando a motivação e a preparação para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança.

*Marcelo Cintra é advogado, empresário e membro do Conselho Gestor da Associação Waldorf Brasilis – Colégio Brasilis em Cuiabá-MT.

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