*Por Maria Rita Lemos
Conta a lenda que, certa vez, um pai chegou do trabalho tarde, cansado e irritado, quando seu filho de 5 anos perguntou:
- Pai, quanto você ganha por hora de trabalho?
Mais ou menos oito reais por hora, se considerar o salário mensal. Mas por que essa pergunta?
Não é nada, não, estava só pensando… Respondeu o menino.
Passaram-se alguns minutos, e o menino voltou ao assunto, quando o pai já se preparava para entrar no banho.
- Pai, você me empresta três reais?
Preocupado e tenso por problemas no trabalho, o pai respondeu: – Por que você não disse logo que queria dinheiro? Para que vir com essas perguntas bobas? Não percebeu que eu só quero descansar? Enfim, se é para me livrar de aborrecimentos, toma logo aqui o dinheiro que você precisa, e vai ver televisão, porque tenho que tomar banho e jantar.
Algum tempo depois, já mais relaxado, o pai voltou a perguntar ao filho, que cochilava no sofá:
- Mas por que é mesmo que você me pediu esse dinheiro?
É que eu tinha juntado cinco reais, e com os três que você me emprestou fico com oito, e posso te pagar e pedir que você chegue uma hora mais cedo para brincar comigo…
É apenas uma história à toa, essa com que começo esse texto. Mas também é verdade que desejo refletir, nesse dia dos pais, especialmente com aqueles que não têm tempo para os filhos. Pais têm tempo para tanta coisa, são tantas as preocupações, sobra tanto mês no fim do dinheiro que mal dá tempo para olhar para os filhos. Não estou dizendo ver, porque para ver basta ter olhos sadios, estou me referindo a olhar, ver além das aparências, prestar atenção.
Apesar de, com maior ou menor freqüência, dizerem que amam os filhos, muitos pais acreditam não ter tempo suficiente para vê-los crescendo, ajudá-los a crescer de forma saudável e feliz. Pensam, muitos pais, que sua maior missão é trabalhar para que nada falte aos seus filhos; então, por esse motivo trabalham ano após ano, horas extras, feriados e domingos, para que possam suprir a casa e as crianças com tudo o que, talvez, lhes tenha faltado na sua própria infância. O que fica esquecido, porém, é que nem sempre os filhos precisam de todas as coisas materiais que os pais acreditam que eles necessitem… Eles apenas precisam de um abraço, uma história antes de dormir. Eles precisam mais de uma companhia para jogar futebol que de um campo de futebol inteiro dentro de casa, e um pai que não tem tempo para jogar com os filhos.
No fundo, pais sabem que essas são desculpas para driblar a consciência, enquanto vão semeando filhos que crescem sem a sua companhia. Crianças que tornam-se adolescentes, jovens e adultos que têm que sobreviver num mundo que não entendem muito bem, porque tiveram que decifrá-los quase sozinhos. A verdade é que os filhos só aparentemente se importam com as maravilhas tecnológicas (caras e muitas delas desnecessárias) que as horas passadas longe deles podem comprar. Crianças e jovens, em sua maioria, preferem jogar bola ou pescar com o pai, passear com ele num domingo, assistir a um filme e comer pipoca. Sozinho com o papai.
Importante é aquilo que se é, muito mais que aquilo que se tem, e apenas ser é muito mais, para seus filhos, que todo o “ter” do mundo, ainda que eles não saibam muito bem explicar isso.
O pior é que os filhos percebem. Eles sabem que, no fundo, os pais têm tempo, sim, o tempo que eles dizem não ter. Têm tempo para conversar com os amigos, para tomar cervejinhas com eles, para reuniões em quase todas as noites, para pescar com colegas no final de semana.
Como diz Vinícius de Moraes, em um de seus poemas, “os bares estão cheios de homens vazios”. Bem como os clubes, os campos de futebol, os jardins, no interior, nas manhãs de domingo.
Filhos querem contar algo que aconteceu na escola, ou dizer da briga com o colega da esquina. Ou, ainda, perguntar de algo que ouviram mas não entenderam bem, e que “é coisa de homem”… Mas agora não dá tempo, qualquer outra coisa se impõe, depois a gente vê, depois conversamos. Um depois que não vem nunca, que talvez nunca aconteça. Pais, nesse momento, perdem oportunidades importantes de conhecer seus filhos – e só se dão conta disso quando eles estão adolescentes, e já não querem contar. Não querem mais conversar, não sabem mais como se faz isso. Agora, eles é que não têm tempo. Tomara que agora não seja tarde demais.
Hoje é Dia dos Pais. Olhe para os seus filhos, pode ser que ainda dê tempo. Você é responsável pela vida dele, então cabe-lhe ensinar sobre o amor, a alegria, o sofrimento e a morte. Pais são aqueles que, em todo o tempo possível, devem estar ao lado dos filhos, ajudando-os a crescer, ouvindo suas histórias, ainda que pareçam bobas e “coisas de criança”… Se você for um pai assim, tenha certeza de que, quando seu filho estiver passando por um momento importante, de problema, grandes alegrias ou dificuldades, é a você que ele irá procurar, com certeza é em seu ombro que ele repousará a cabeça, talvez já adulta.
Fazer um filho é fácil. Na maioria das vezes, é bom; em outras é problemático. A missão, porém, não está em fazê-lo, só isso seria muito simples. O seu grande desafio de homem, se quiser que seu filho escreva Pai com letra maiúscula, é prepará-lo para a vida. E depois sair de cena, ficar à margem. Deixá-lo partir, quando estiver pronto. Isso dá muito trabalho, dura toda uma vida, mas também é, talvez, a mais bela tarefa de um homem que quer ser chamado de Pai.
Fonte: Crônica do Dia: DIA DOS PAIS, TEMPO PARA FILHOS [Maria Rita Lemos]